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15 de jul. de 2010

Monstro em sala

(foto: filme "O Monstro da Lagoa Negra" )


Estava em em meu estágio tomando conta de uma sala de alfabetização (1º ano primário) quando uma menininha puxou a barra da minha calça para me mostrar que o amigo dela estava chorando. Achando que era algo comum, que a criança estava com saudade dos pais, ou que alguma outra criança tivesse brigado com ele, fui tentar acalmar o menino e saber o motivo do choro.Para minha supresa, tal menino soluçante e aos prantos estava chorando pois a "tia" iria brigar com ele pois ele havia esquecido de fazer o dever de casa. Rapidamente ajudei o menino e voltei pro meu posto esperando a professora destes alunos chegar. Mas não pude parar de pensar em tal menino e no medo que ele tinha nos olhos por pensar na bronca que levaria da tal "tia".

Esquecer de fazer o exercício pode até ser descuido, mas convenhamos, é uma criança! Cabe muito aos pais lembrar tal menino de fazer a lição ao invés de se divertir e brincar como toda criança quer e deve fazer. quem nunca esquceu-se de fazer a lição vez ou outra e que nem por isso deixou de ser um bom aluno, ou ao menos aprender alguma matéria? Minha preocupação se dá pelo desespero de tal criança ao pensar em ser repreendido severamente pela professora simplesmente por esquecer-se de realizar uma tarefa.

Se um menino começa a chorar copiosamente por um simples esquecimento, que tipo de ameaça ou repreensão tal menino já presenciou ou sofreu por parte desta professora? Que tipo de profissional de ensino transmite o conhecimento e impõe o respeito causando medo em criancinhas de 4 a 5 anos? Talvez tal professora esteja estressada, cansada e mal paga, mas será que, mesmo assim, isso compensa tratar crianças de uma forma ameaçadora a ponto de despertar o medo nelas até mesmo por antecipação? Não sei, mas acho que profissionais que se propõem a trabalhar com crianças devem ser ao menos engajados para tratar dos menores sem pressioná-los a tal ponto. É claro que devem cobrar deles resultados e cumprimento de tarefas mas, a ponto de deixá-los desesperados e ameaçados, acho que não.

Sei que pedir por profissionais calmos, receptivos e atenciosos no nosso país é muito difícil, pois a área do ensino é muito mal remunerada e carente de investimento (tanto no salário, quanto no treinamento/aprimoramento de seus profissionais). Mas mesmo assim, acho que deve vir da parte do próprio professor tentar melhorar e controlar uma turma incentivando-os (e não por ameaças ou pressão psicológica) e mostrando-os as vantagens de se alcançar metas no aprendizado. Não somente questioná-los a atingir certa nota, sem nem ao menos conscientizá-los da evolução em suas vidas que é alcançar tal objetivo.Principalmente nas primeiras séries, onde os alunos estão despreparados e desnorteados quanto ao porquê de terem que atingir tal nota.

Mais do que dizer "para passar de ano", mostrar que, adquirir conhecimento, mais do que boas notas, é assegurar uma evolução pessoal que, se mostrada desde o começo, pode motivar os alunos a serem mais que Bs, Rs ou Is nos boletins. E mais do que pressionar, explicar ao aluno a importância, não do cumprimento de todas as tarefas mecanicamente, mas sim do exercício, treino e do aprendizado dos conteúdos apresentados.

E talvez assim, tenhamos menos alunos debulhados em lágrimas preocupados com a bronca da tia e mais alunos preocupados em aprender.

18 comentários:

  1. Muito bom! Concordo plenamente com você. Ser Professor exige, mais do que vocação, paciência. Para prestar um trabalho de excelência não precisa usar de ameaças. Acho esse tipo de conduta extremamente maldoso, porque a criança está ali, inexperiente, indefesa e leva esse temor dos professores pro resto da vida. Bom seria se todos pensassem como você e ajudassem a construir verdadeiros estudantes!
    Beijo

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  2. nossa que "tia" não é? sempre pensei em fazer biologia pra focar na área da licenciatura mais o destino me apresentou a fisioterapia e hoje não me vejo fazendo outra coisa, ainda estou na faculdade mais espero que quando terminar de uma forma ou outra quero ensinar alguma matéria com respeito a fisio, embora não vou ensinar crianças mais não importa se ensinamos crianças ou adultos o que importa é a maneira com que você ensina.gostei muito do blog e do seu post, parabéns!

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    depois passa lá?

    http://juliana-valerio.blogspot.com/
    http://juliana-valerio.blogspot.com/
    http://juliana-valerio.blogspot.com/

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  3. Pois vc sempre escrevendo coisas maravilhosas...
    Eu estou com saudades de vc...
    Não nos vemos mas, nossas vidas tomaram um rumos diferentes. Mas eu nunca vou esquecer a pessoas maravilhosa que vc é...
    Se vc não lembra de mim tudo bem, me basta lembrar de vc, e que vc foi uma das pessoas mas especiais que passaram na minha vida...
    Quando eu vou aiii... irei te procuar!!!
    Beijos, Amanda de França

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  4. Pena que são muito poucos os dispostos a fazer a dferença e estes, são desmotivados pelos colegas mais experientes.

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  5. Mais do que crianças ou adultos, é com seres humanos que estamos lidando, respeito acima de tudo! Que bom que tenha gostado.

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  6. Claro q eu lembro d vc, amanda! Tá c/ o meu primeiro caderno de textos até hj. Não que seja uma cobrança, apenas é uma forma de ver que parte de mim ainda está com você, e isso é reconfortante, apesar da distância. Poisa então venha quando der. Eu não mudei de lugar e nem de número d celular, é só ligar =D

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  7. Gostei muito do blog...
    Gostei do modelo também. Simples. Discreto... Mais muito legal mesmooo!

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  8. é verdade, é foda...

    Coitado do menino :S

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  9. pena que são poucos determinados a essa dedicação né?!=\
    tomara qe mude um dia ;D
    bom texto :*

    visite ;D
    bolinhodevento.blogspot.com/

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  10. Isso é lindo de se dizer, Greg, mas irrealizável. É uma professora quem fala. Uma professora humilhada, infeliz, desiludida, perdida, agredida emocionalmente. Você já esteve em sala dando aula? Já foi responsável por uma turma? Sabe o horror que é tentar conseguir a atenção deles, praticamente implorar a eles para lhes ensinar alguma coisa? Acabar com a sua voz porque enfrentam uma ordem sua como um seu igual (aliás, um seu superior)? Ser aviltado dia após dia? Passar um dever para 35, 40 alunos e nem uma alma da turma o fazer? Sabe o que é um grupo, com o qual é obrigado a trabalhar, desprezar a sua presença e perguntar "vale nota?" para toda e qualquer atividade que se propõe? Sabe o que são alunos rindo da sua cara se você tenta explicar amavelmente que eles precisam aprender, e não passar de ano? Esse belo discurso se aplica a pais, professores, CREs, METROs e todo o pessoal que não está em sala de aula, vivendo o dia a dia da Caverna do Dragão. É um discurso maravilhoso para o RJ-TV, cheio de criacinhas chorosas e loucas pelo conhecimento. Essas criancinhas só aparecem em 0,1% das escolas, e geralmente quando as câmeras são ligadas. Quanto a nós, tentamos cada vez mais sobreviver a mais um dia. Ao fim de cada aula, de cada dia, agradeço a Deus por ter sobrevivido. Estou à beira da depressão e da síndrome do pânico. Trabalho no município porque preciso. Tem realmente a certeza de que somos nós os bichos-papões? Imagina o que é ser um pai substituto de 40 filhos ao mesmo tempo? Não, não imagina. Um conselho: não queira imaginar. A não ser que esteja disposto a enfrentar as consequências. Todas. Beijos e sucesso no blog!

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  11. Partilho de algumas de suas queixas no comentário e concordo plenamente que meu texto é irrealizável em uma turma um pouco mais avançada.
    Entretanto, tal texto foi direcionado para as classes iniciais no ensino (jardim de infância e pré-alfabetização) pois, nesta idade, as crianças estão mais desnorteadas quando ao porquê de estar ali. E, em muitos casos, não são mesmo informadads do motivo e dos objetivos.
    Vejo tudo como um processo longo e difícil. Seria praticamente impossível uma professora tentar mostrar as vantagens do ensino para uma turma já avançada, pois estes já estão descrentes do sistema, da família e de tantas outras coisas que acabam afetando seu comportamento em sala de aula. Seria perda de tempo.
    Também não culpo somente o professor pelos problemas "emocionais" de uma criança. Apenas naquela situação, foi, a meu ver, realmente culpa de uma pressão excessiva (que talvez a própria professora não tenha se dado conta de ter exercida). Acontece que, outros fatores como o descaso familiar, por exemplo, são mais expressivos em níveis mais elevados de ensino.
    Apesar de seus problemas pessoais, aprecio sua tentativa de tentar ajudar no futuro dos seus alunos. Não a aconselho a se desgastar tanto tentando pois, como já disse, eles mesmo estão descrentes e, mudar tal perspectiva é um processo mais longo que um ano e com um único professor. Tampouco lhe peço para desistir de tentar, apenas aconselho-a a saber balancear o quanto de entrega a uma turma, mesmo qwue para o brem deles, pode ser saudável para você. Desenvolver doenças como depressão ou síndrome do pânico por conta de desentendimentos em sala pode ser sinal de uma desestabilidade emocional, que poderia ser evitada caso a relação entre o aluno-professor fosse melhor pensada (não distanciada, nem amistosa demais, balanceada).
    Espero que você melhore de tais problemas emocionais e, apesar do seu conselho, não desistirei de seguir a carreira. Quem sabe eu não mude de idéia depois de um tempo, mas não acho isso possível.

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  12. Nossa fiquei imaginando, o menino chorando por não ter feito a lição de casa, sendo que como vc mesmo disse, os pais poderiam mesmo ter lembrado a criança que deveria fazer, assim como meus pais sempre me lebravam.

    ;P

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  13. Olá!
    no começo achei que era uma crônica, depois percebi que pode ser uma reflexão em cima de um fato real que você vivenciou, mas vou ficar com essa dúvida...

    dúvida essa que não atrapalha o rendimento e o desenrolar de seu pensamento. ficou tudo muito claro e eu só posso concordar contigo. acho que é desde pequeno que se aprende sobre as responsabilidades sim, mas existem formas de se fazer isso, e não é "intimidando" a criança que uma professora consegue fazer isso...

    um abraço.

    http://songsweetsong.blogspot.com/

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  14. o post é incrivel, tenho um filho de 3 meses e logo vou ter ki por ele na creche, e o ki + me preocupa é como ele será tratado la, tbm tenho dois irmãos uma menina de 6 e um menino de 4 e os dois adoram a professora deles, ja meu priminhu morrede medo e disse ki um dia a tia dele bateu nele na escolinha, mas a mãe dele n tomou nenhuma providencia ¬¬, contudo eu axu ki os pais deveriam fikar ++ atentos tanto em relaçao aos estudos quanto ao compartamento da criança ki muda quando esta sendo maltratada em determinado lugar

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  15. Olá, Greg. Adorei seu blog. Eu lecionei há quase 7 anos no Brasil, lecionei em escolas de idiomas e colégios particulares. A minha maior frustração e o que me motivou a mudar de área foi pelo comportamento não só dos meus colegas de trabalho, como também, de coordenadores pedagógicos, diretores e até mesmo cooordenadores de cursinhos de idioma que pediam para que nós professores deixássemos os alunos que não estavam preparados seguir a diante.A história era sempre a mesma, em escolas de idiomas como o CNA, Seven, Wise up,Fisk e outras mais, a ordem era rematrícula de acordo com a quantidade de alunos passados para frente porq óbvio os repetentes nunca queriam pagar um semestre a mais, o professor receberia mais turmas. Então a turma do arredonda, do mal humor, sempre estava presente. Hoje, eu moro na Irlanda e comparo o ensino daqui com o do Brasil e parece que são planetas diferentes. Eu suei muito para adicionar experiência, e cursos extras aqui para que meu diploma me ajudasse a recomeçar, estou retornando a estudar na faculdade e no meu blog eu conto minha experiência: www.catincollege.blogspot.com. Agora como é verão aqui e mês de férias, meus posts estão seguindo o clima. E eu sempre penso que de tudo que vi no Brasil quando eu lecionei, o professor é um modelo para alunos, só que juntamente com o governo, a sociedade, a cabecinha da pessoa que está aprendendo acaba se limitando, quer melhor exemplo, por causa dos meus professores, eu sempre odiei matemática.
    abss

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  16. Pois é. Acho até que a falta de atenção os pais à mudança de comportamento - e também ao descaso por parte dos pais em geral - ainda merece uma atenção especial. Pois, por mais que um profissional seja bem preparado e consiga tratar bem a criança, os pais também precisam se fazer presentes pois não é o suficiente. Cada um deveria fazer sua parte para uma melhor construção do pequeno cidadão.

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  17. Seu caso é um bom exemplo de como nós, profissionais do ensino, somos moldados aqui no Brasil a ser descrentes do sistema de ensino. Isso também é um dos fatores que desestimula o professor . O profissional dessa área deve ser amar muito o que faz (e também a si mesmo, para não cair no campo do desgaste excessivo) para se manter focado no meio de tantos fatores desestimulantes. O problema é que esse desestímulo também afeta os alunos e os torna descrentes também, um efeito bola de neve que joga uma montanha de gelo no bom ensinar.

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