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17 de set. de 2010

O ônibus

E o ônibus segue seu caminho pela avenida movimentada, na cidade fria de pessoas apressadas.

Cada novo passageiro é acolhido em pontos irregulares, mas contanto que o dinheiro movimente a roleta, não faz mal. Acomodam-se, e passam a observar a cidade fria através das janelas sujas de vidro. Alguns, além de atraídos pela paisagem externa ainda têm fones nos ouvidos, alienando-os completamente, presos, não somente naquele veículo, mas em um mundo próprio e individualista.

E o ônibus segue seu caminho pela avenida apressada, na cidade fria de pessoas movimentadas.

Poucos metros à frente, um outro ônibus é invadido por assaltantes. Todos os passageiros se preocupam, mas não em avisar as autoridades ou ligar para que alguém fique ciente. Sua preocupação é em esconder os próprios bens e agradecer o azar dos passageiros do ônibus invadido. Em suas preces, agradecem pelos ladrões terem roubado o ônibus da frente e esquecido o deles.

E o ônibus segue seu caminho pela avenida fria, na cidade apressada de pessoas movimentadas.

Em mais um certo ponto da avenida, existe uma aglomeração na pista. O ônibus é obrigado a esperar o trânsito melhorar para poder passar tranquilamente. Um acidente, um motoqueiro estendido ao chão sobre uma poça de seu próprio sangue. Tal imagem gera inquietação nos passageiros. Poucos ficam curiosos e querem ver a cena, apreciar a morte alheia. Muitos reclamam, culpam o motoqueiro por causar-lhes atraso de alguns minutos com sua morte. E ainda alguns poucos que não se pronunciaram, pensam na possibilidade do ônibus passar por cima de tudo que o impede de seguir para evitar-lhes o atraso.

E enfim, o transtorno é findado. E o corpo é recolhido. E a pista é liberada.

E o ônibus segue seu caminho pela avenida apressada, na cidade movimentada de pessoas frias.