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12 de out. de 2011

Ele Conseguiu

Ainda havia muito a ser feito. Mas agora ele não tinha mais tempo para pensar nisso.

Passou uns bons três anos desejando aquele cargo. Sabia que tinha potencial, sabia que precisaria se esforçar (, sabia que daria conta), sabia que precisava de mais foco, só não sabia quando conseguiria aquela promoção. Mas ele conseguiu.

Precisou de muito para chegar lá. Ofereceu-se para muitas horas extras, e perdeu amigos por isso. Trabalhou em alguns feriados, e virou as costas para a família. Esgotou-se no trabalho, perdendo um pouco da saúde por isso. Planejava e estudava em casa, perdendo até o sagrado tempo do ócio. Mas sabia que tudo valeria a pena, que estava mais para rocha de tão duras penas que vivia.

Checava e-mails no trânsito, corria pro trabalho, ficava horas frente ao monitor, concentrado, fixado, sugado. Comia pouco, voltava, tomava um analgésico, voltava a sentir dor de cabeça, continuava a trabalhar, enfrentava os problemas da empresa no trânsito, na volta pra casa. Chegava, informava-se, checava e-mails, deitava, dormia com o notebook ao lado. Cíclico, vazio.

Até que ele conseguiu.

Comemorou, sozinho, no bar, tomando um suco; a saúde fraca não o deixava beber. Os amigos, ao menos os que lembrava ter, não o atendiam. Os parentes estavam ocupados (ou queriam parecer estar). Até a gente do bar, rindo, batucando um samba em plena quinta feira na Lapa, parecia distante. Era mais gente que ele. Mais feliz, mais comemorante, mais viva.

Deixou de pensar nisso quando o celular vibrou em sua mesa. Havia ainda trinta e-mails a serem lidos decorrentes da mudança de cargo. Levaria um fim de semana inteiro para compreender sua função e passar as instruções ao funcionário que executaria sua antiga função. Não havia tempo a perder.

Ele conseguiu.